AMAS-ME? EU TE AMO

11/03/2016 00:17

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A frase “eu te amo” tem um lugar especial no mundo das relações sociais. Ela vai da mais intensa expressão de afetividade, passando pelo amor fraternal, até a mais perceptível trivialidade. Ou seja, ela pode acompanhar ou integrar outras frases, tais como: “eu te amo + meu amor”; eu te amo + meu filho (ou meu pai)”, e até mesmo: “eu te amo cara”(essa última se ouve, por exemplo, em campos de futebol). Naturalmente, cada uma delas tem uma força de expressão distinta; adequando-se aos membros destas relações sociais, e carregando, consequentemente, maior ou menor sinceridade naquilo que expressa. Mas essa frase teve uma força de significação tão grande na vida de um pescador, há uns dois mil anos, que ainda hoje ecoa em muitas mentes, e esse é o caso hoje, aqui e agora.

Não havia muito tempo, esse pescador, chamado Simão, causara e sofrera uma grande decepção ao, covardemente, negar, por três vezes, que conhecesse seu Mestre, melhor amigo e, acima de tudo, seu libertador! Simão sofreu a decepção porque havia garantido que estaria disposto a ir até a morte com seu Mestre. E causou a decepção porque seria impossível (a nível de consciência) negar conhecer um amigo naquelas circunstâncias, e não decepcioná-lo. Simão, que pelo Mestre que ele negou, foi chamado Pedro (do Gr. Petros =fragmento de pedra), chorou amargamente quando percebeu o que fizera naquela madrugada. Teve que ver, de longe, seu amado (e negado) Mestre ser levado à morte.

Passados três dias da morte, seu Mestre ressuscitou, e apareceu a todos. Aos primeiros que souberam de sua ressurreição, deixou recomendações: “... dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse”(Mc.16.7). Pedro, ao receber essas informações, foi conferir, e pôde ver a confirmação:"Pedro, porém, levantando-se, correu ao sepulcro e, abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se, admirando consigo aquele caso." (Lucas 24 : 12).

 

Dias depois, mesmo já tendo Jesus aparecido duas vezes, comprovando assim sua ressurreição, Pedro e alguns discípulos foram pescar; voltaram a mesma vida (embora seu ressurreto Mestre os tivesse dito que eles seriam pescadores de homens). O que pensava Pedro? Será que desgostava-se, e sofria seu próprio desdém, lutando com sua consciência que o torturava com as lembranças de sua fraqueza em ter negado o doador da vida? Seja como for, ele foi a pesca.  E quando estava no mar, ao ouvir uma voz, percebeu que era a de seu Mestre e teve outra vez a oportunidade de reencontrar-se com Ele. Lá, na margem do mar, seu Mestre já havia preparado alimento: já havia fogo, peixe e pão.

 

Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. (Jo 21.15-17 RA).

 

 Após esse tão especial café da manhã, e, possivelmente, um pouco sem jeito por estar diante daquele a quem, por três vezes havia negado conhecer, Pedro, é surpreendido pela pergunta: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? A pergunta “tu me amas”, que exigia a resposta “eu te amo”, repetiu-se, e a cada vez que ela era ouvida, naturalmente, cobrava uma dose maior de firmeza da resposta! Era como se aquele que perguntava acrescentasse outra pergunta logo após a resposta da primeira; ou seja, era como se fosse a seguinte sequência de perguntas e respostas:

– Amas-me?

– Sim, eu te amo.

– Você tem certeza que me ama...?

 

Ao ouvir seu Mestre insistir com a pergunta, Pedro entristeceu-se. O que passou pela cabeça de Pedro não é seguro especular, mas possivelmente, e até provavelmente, tivesse muito a ver com aquele momento em que ele tinha o negado diante de uma criada. Por medo da morte, o negara três vezes, mas agora, diante daquele que venceu a morte, e que é o doador da vida, necessitava, também três vezes, simplesmente dizê-lo de todo o coração: eu te amo!

Pedro percebeu que a frase “eu te amo” parecia não ser tão suficiente. Ele já havia a pronunciado duas vezes, mas seu Mestre o pergunta mais uma vez: tu me amas? Pedro então se rende, e, um pouco entristecido, lhe diz: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”.

Amado irmão, como seria bom podermos dizer ao Senhor: “eu te amo”, e saber que nosso amor por ele será comprovado pelas nossas ações; pela nossa gratidão a Ele. Sim, porque certa vez ele disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama”. Portanto, a simples frase “eu te amo”, de nada valerá se não estiver revestida de sinceridade. Mas como podemos nos garantir diante da grandiosa santidade de Deus? Como podemos responder “eu te amo” garantindo a certeza de que nunca erraremos? A resposta está em sabermos que a sinceridade é a segurança que nos resta e que ele mais exige de nós. Pedro o negou por três vezes, mas teve a prova de que podia  continuar o amando... Seu amargo choro demonstrou seu sincero arrependimento! E a forma como respondeu a terceira pergunta: Senhor, tu sabes tudo. Tu sabes que eu te amo. Ele é quem nos dá a oportunidade de amá-lo. "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro"  (I João 4 : 19).

Essa parece ter sido a sensação que Pedro teve naquele momento. Mesmo tendo o negado três vezes, não foi desprezado; pôde ouvir por três vezes a pergunta daquele que nunca o deixou de amar: amas-me? E não somente isso, mas ganhou muita confiança, pois recebia, a cada vez que respondia ao seu Mestre, o encargo de cuidar de suas ovelhas.

Não sou melhor que Pedro. Às vezes, chego a me colocar em seu lugar e ouvir a mesma voz me perguntando: “amas-me?” e para respondê-la com a devida sinceridade, só o faço, caindo aos seus pés, e repetindo as palavras de Pedro: Senhor, Tu sabes tudo... (leia-se estas reticências como: Tu sabes de todas as minhas imperfeições, mas apesar de minhas falhas, Tu sabes...) Tu sabes que eu te amo. E sei que só te amo porque primeiro me amastes!

 

Naturalmente, o amor de Jesus por Pedro era maior do que o de Pedro por Jesus. Mas tanto Jesus amou a Pedro, quanto Pedro amou a Jesus. Deus é amor (1° Jo 4.16), e possibilita-nos a amá-lo apesar de nossas limitações. Tal como uma criança que segura a mão de seu pai ao atravessar uma rua para sentir-se segura, somos nós. Tal pai que para sentir-se certo da segurança de sua criança não espera apenas pelo seu pequeno esforço em segurar-lhe a mão, mas segura a mão de sua criança com firmeza, assim é Deus para conosco! Por isso Paulo (pelo Espírito Santo) pôde nos dizer: “Quem nos separará do amor de Cristo? ...Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8. 35,39) .”

 

Nós amamos ao Mestre? Ele também nos pergunta: “amas-me?” com certeza, Ele jamais nos negará o seu amor; mas, tal como com Pedro, Ele espera de nós uma resposta sincera. E tal como Pedro, nós devemos levar a sério o teor e significado dessa pergunta! Porque Ele, o Mestre da Galiléia, sabe de tudo!

Na certeza de que aquele que está em cristo é uma nova criatura, e na esperança de muito em breve estarmos com Ele, saúdo a todos com a paz do Senhor!

 

Fraternalmente,

Ir. Genildo Alves de Lima

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