o caminho entre a semente e o fruto

22/08/2012 17:16

 

GENILDO ALVES DE LIMA

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O trabalho do semeador e a receptividade do solo
Quando eu era criança presenciei muitas conversas entre homens do campo. Não estou falando de
grandes fazendeiros e proprietários que aparecem na roça somente para dar “as ordens”, mas de pessoas
que plantavam seu próprio alimento; que faziam, ali mesmo, em um fogão improvisado, o seu almoço, e,
às vezes, até dormiam em uma palhoça, ao relento do frio e da escuridão. Nessas rodas de conversas eles
falavam de suas experiências; a principal delas era a de quanto plantaram e o quanto haviam colhido.
Alguns exibiam como troféus, seus “sacos cheios de feijão”, e mencionavam, usando as mãos, o punhado
de sementes que tinham usado para tal. Impossível era que minha mente, naquela hora, não visualizasse
duas coisas de fundamental importância para eles, e para toda a agricultura: A semente e o fruto!
Hoje, num mundo mais propenso ao mercado, isso estaria para o que chamamos de “custo –
benefício”; embora no meu entendimento, quando comparado à famigerada “técnica de marketing”, o
ideal daqueles simples agricultores era de muito maior nobreza! Sim; porque na agricultura, como aqueles
homens conheciam, não há lugar para trapaças que o mundo capitalista alimenta tão bem.
Há muito tempo, numa região agrícola, homens do campo puderam ouvir algo da maior
importância nesse âmbito. Quando esteve entre eles, Jesus usou várias parábolas para ilustrar as
grandezas do reino de Deus. Uma delas está situada nestas experiências do homem da roça, e trata
exatamente desse aspecto da vida agrícola: Sementes, frutos , e o percurso que vai da semeadura à
colheita:
“E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava,
uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; E outra parte caiu em
pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda;Mas, vindo o sol,
queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e
sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a
trinta”(Mateus,13. 3-8).
A explicação desta parábola é muito simples. Mas nunca é demais uma reflexão. Aliás, Marcos
registra que esta foi uma das parábolas que os discípulos não entenderam de primeira; ao que foram, por
Jesus, advertidos: “E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as
parábolas?”(Mc.4.13).
O que esta parábola nos quer dizer? Parábola é a extensão de uma símile [1 ]ao longo de uma história,
e por certo quer falar de alguma coisa que se compara a outra. O elemento principal desta parábola é que
há um semeador, e portanto, semente e semeadura; e Isso implica que haverá uma colheita! Todo o que
semeia tem o prazer, e desejo de colher com fartura. O semeador saiu a semear. Um dia ele voltará para
colher! Jesus explica que a semente é a palavra de Deus – o anúncio do Evangelho do Reino – e os
diferentes tipos e estados de solo são os ouvintes. Assim, aquele que ouviu e não compreendeu é
comparado com a beirada do caminho; o que recebe a palavra com alegria, mas desiste com pouco tempo,
é comparado com o solo pedregoso; o que tem a palavra sufocada pelos prazeres e cuidados deste mundo
é comparado com o solo ocupado por espinhos. Mas, para Glória do “Semeador”, há também aqueles que
ouvem e compreendem a palavra; e dão frutos, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.
Essa parábola dá inicio a uma sequência de sete parábolas, todas no capítulo 13 do evangelho
segundo São Mateus, que falam sobre o Reino de Deus em seu estágio situado entre a primeira e a
segunda vinda de Cristo. Nesse período a palavra será pregada a toda criatura, e haverá aqueles que crerão
e serão salvos, e os que não crerão e serão condenados. Esse é um bom momento para perguntarmo-nos:
e quanto a mim...? de que lado estou? Eu tenho crido na mensagem do evangelho? Se sim, como tenho me
comportado? Pareço mesmo com um solo fértil que frutifica? Porque este é o objetivo da semeadura! Em
outra ocasião, o mesmo Jesus disse: "Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." (João 15 : 5). "Não me escolhestes vós a mim, mas eu
vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça... (João 15 : 16).
Como já dito, frutos é o objetivo da semeadura. É o que Deus espera dos seus.
“Eis que o semeador saiu a semear”(Mt.13.3). Isso equivale a dizer que está lançada a semente do
evangelho; ela frutificará nos corações daqueles que crerem. A semente é jogada com muita generosidade;
todo solo a receberá. O próprio Jesus explicou a parábola, e nossa alegria é saber que muitos têm crido no
evangelho, muitos podem ser comparados com “a boa terra”, e produzirão muitos frutos.
Como já dito anteriormente, o grande momento do semeador é a colheita; ela mostrará sucesso ou
o insucesso de sua empreitada. O segredo está no caminho percorrido entre a semente e o fruto. Toda
semente tem como qualidade intrínseca, a capacidade de produzir, e tudo que ela precisa é achar uma
terra onde possa desenvolver esse potencial; onde possa germinar. Portanto, Não se trata da ação do
semeador. A semente foi lançada; e ela quer um solo que simplesmente a receba como semente! Ou seja,
não é no jogar da semente que o problema se configura, mas em sua recepção; como estará o solo que a
recebe.
Alguém poderia ser tentado a questionar o semeador, e perguntar se ele não teria como saber qual
o solo impróprio para que, então, não jogasse nele a semente. No entanto é importante que se note que
para esse semeador, o tempo, e a certeza de que a semente tem seu potencial é o que mais interessa. Ele
sabe que a boa terra se revelará quando do “frutificar das sementes”. Portanto, sua preocupação é jogar a
semente; quanto ao mais, o próprio solo o dirá. Ainda é possível que alguém seja tentado a desculpar-se, e
pergunte: que culpa eu tenho de não ser “ boa terra?” ou ainda: “como saber se não sou?” A resposta é

igualmente simples: dependerá de como você recebe a semente! Não há determinismo2 algum; não se
trata de predestinação. Não há como se isentar da responsabilidade! Jesus, como semeador por
excelência, independe do tempo, pois Ele é Deus! Como tal, Ele vê todas as coisas de um lugar privilegiado.
Ou seja, não há futuro para Ele; tudo é um “eterno agora”. Não se deve esquecer que este semeador é,
também, o “narrador” da parábola. Logo, toda “beirada de caminho”, “terreno pedregoso” ou “espinhal”
fez-se assim por livre escolha e, por isso, não pôde receber bem a semente. Solos impróprios é uma
realidade! Tão real quanto à liberdade que Deus dá a suas criaturas. E é neste contexto que Jesus traz esta
parábola: Todos ouvirão sua palavra, todos terão igual oportunidade. Suas ações ao receber, e como lidar
com ela, é que os fará [como] terra própria ou não!
“Eis que o semeador saiu a semear...” Quem será “boa terra”... Ver-se-á no dia da colheita!
Enquanto esse dia não vem, vivemos o “caminho entre os dois eventos”, entre a semente e o fruto. Uma
coisa interessante a ser acrescentada aqui, é que todos nós também podemos ser, além de solo,
“semeadores prepostos”. Como discípulos do nosso Amado Mestre Jesus, temos a honra de semearmos
sua semente – a palavra de Deus. Todos os que se mostram “boa terra” para o Supremo Semeador,
naturalmente tornam-se seus semeadores. Caso ainda não tenhas se perguntado que solo você está
representando, já é hora de fazer isso, porque o dia da colheita está muito próximo!
Para aqueles que demonstraram ser a boa terra onde a palavra de Deus pôde germinar, Paulo
escreve falando sobre esse inefável favor, e sobre a grande diferença que caracteriza a vida frutífera de um
cristão verdadeiramente renascido: “E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais?
Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso
fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rm.6.21,22). E sobre o grande privilégio de ser
transmissor desta palavra, ele tem uma observação: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para
que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (II Coríntios 4 : 7).
Certo de que muito em breve a grande colheita acontecerá, e na esperança de que não nos
cansaremos de lançar a graciosa semente da mensagem do Evangelho de Cristo – único e suficiente
salvador – saúdo a todos com a gloriosa paz do Senhor.
Fraternalmente,
______________________________
Ir. Genildo Alves de Lima

1 Um símile uma comparação expressa ou formal entre duas coisas ou duas ações em que uma é dita ser como, ou semelhante a
outra. Walter C. Kaiser Jr. E Moisés Silva- Introdução A Hermenêutica Bíblica. (pg.89)
2 Filos - Relação entre os fenômenos pela qual estes se acham ligados de modo tão rigoroso que, a um dado momento, todo
fenômeno está completamente condicionado pelos que o precedem e acompanham, e condiciona com o mesmo rigor os que
lhe sucedem. [... se se refere a ações humanas e a decisões da vontade, entra em conflito com a possibilidade da liberdade.]
Dic. Aurélio Digital Século XXI