O QUE ENSINA-NOS A GRAÇA

15/08/2013 16:01

 

click na imagem e baixe o arquivo em pdf - Sagradas letras -Junho, Julho, Agosto de 2013

 

Dirigindo-me ao trabalho, em minha rotineira caminhada, pude ser privilegiado por um pensamento que, devo admitir, não cabe a mim nenhum mérito por ele. Sabe aqueles momentos que você lamenta as dificuldades que estes dias oferecem na batalha contra o pecado? Foi essa a lamentação de minha alma, que se traduziu em uma oração; e, logo após, obtive a resposta num tom confortavelmente exortativo. Eis a razão porque digo que tal pensamento não foi mérito meu!

Há alguns meses não escrevo esse pequeno periódico, agora quero externar minha gratidão a Deus por novamente poder escrever; e, quero compartilhar a resposta que tive àquele pensamento, bem como a exortação (o que não sei é qual será a “confortabilidade do tom” que a levará até você!).

Pensar na tensão entre a carne e o espírito nessa luta interna e cotidiana que acontece dentro de todo verdadeiro crente em Jesus Cristo, me fez perguntar: “como viver num tempo de tanta corrupção como este”? Esse foi o pensamento que me veio à mente naquele dia; ele ocasionou a interrogação posta acima. E a resposta foi simples: estes dias não são tão diferentes dos dias dos Apóstolos! Naqueles dias o escritor aos hebreus já escrevia: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,"  (Hebreus 1 : 1). Em sua segunda carta, Pedro já denominava seu tempo como sendo os “últimos dias”, e exortava os irmãos a aguardarem pacientemente, pois o Senhor não retarda sua promessa; Ele é longânimo (2 Pe.3.2-10). Assim, não há mais razão para imaginarmos que nossas dificuldades são excepcionais em relação a dos cristãos dos primeiros dias da igreja.

Mas, afinal, como o pensamento que veio a mim naquela manhã se apresentou? como, de repente, me veio à mente isso de “dias mais fáceis ou mais difíceis?” Na verdade, me veio à lembrança o que Paulo escreveu a Tito:

 “ Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo; O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2.11-15).

Paulo já havia escrito aos efésios uma carta na qual os informava da grandiosidade da salvação e de ser esta “um dom de Deus”, portanto, jamais  obtida mediante méritos humanos(Ef 2.8,9). Mas, não obstante esta verdade inegável, Paulo ( sob inspiração do Espírito Santo, é claro) acrescenta que somos “criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”(Ef 2.10).Agora, escrevendo a Tito, as palavras que Deus lhe concede são estas: “A graça de Deus se há manifestado trazendo salvação... e ensinando-nos que...” Veja que maravilha: A Graça de Deus traz salvação, mas também “ENSINA”! Levar a sério seu ensino é algo marcante, (ou porque não dizer “determinante”) da legitimidade daquele que foi alcançado por ela!

Pois bem, ao pensar sobre essa maravilhosa graça, que além de ser a base de nossa salvação atua como “agente ensinador”, não pude conter minha alegria e deixar de me levar pela reflexão sobre o tema. E o que temos de tão importante? Muita coisa! Lembremos, por exemplo, de cristãos que imaginam que o fato de sermos salvos pela graça nos dê o direito de vivermos à vontade; experimentando de tudo que o mundo oferece. Quando confrontados, esses crisãos geralmente respondem com a afirmação: “Obras não salvam ninguém”, ou: “nossa salvação não vem das obras”. Agora, ao analisarmos cuidadosamente esse texto veremos que não é simplesmente assim... Não é a mensagem da graça uma resolução que anula a santidade de Deus.  Como enfatiza o escritor judeu messiânico David H. Stern, não há no novo testamento a apresentação de uma “graça barata”. [1]

Quando Paulo escreve a Tito, o contexto é exatamente o de combate a falsas doutrinas. O ultimo versículo situado no capítulo primeiro é: “Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra.” Vindo  logo na sequência a recomendação de Paulo a Tito, lembrando-o que  ele deve ser o oposto dos indivíduos citados no versículo anterior: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.”(Tt. 1.16;2.1). A partir daí, ele exorta a velhos, mulheres novas e idosas, jovens e servos a viverem uma vida diferente do viver mundano, e ao próprio Tito, o qual deve ser “ exemplo”(vers.2-10). Então, Paulo revela, em suas próximas palavras, “o porquê” de ser necessária esta postura àqueles que vivem em Cristo: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que...”  

Por que o cristão deve viver uma vida santa e irrepreensível? Por que nosso irmão Paulo recomenda a todos os seus destinatários, e em particular, a Tito, tantas recomendações no tocante a comportamentos, se o mesmo Paulo também escreveu que não somos salvos mediante as obras? A resposta vem no versículo 12 : “Porque a graça de Deus se há manifestado;  e não apenas para salvar, mas ensinando-nos que...”  

O que nos ensina a graça? E como isto se dá? Isto pode ser visto quando se lança um olhar mais detido  sobre as palavras de Paulo. Suas palavras podem ser dispostas sequencial e separadamente:

A graça se manifestou trazendo a salvação e

1-                        Ensinou a:

A.                        Renunciar a impiedade;

B.                        [Renunciar] as concupiscências mundanas.

2-                        [então] vivamos no presente século

[De forma]

A.                        Sóbria,

B.                        Justa,

C.                       Piamente

3-                        Enquanto aguardamos a bem aventurada esperança (o arrebatamento)

 

O que está disposto acima nos mostra como as expressões de Paulo sequenciam um retrato do processo vivido por todo verdadeiro crente: A graça se manifestou trazendo a salvação, mas essa graça também nos ensina que enquanto esperamos o arrebatamento  não devemos viver no presente século uma vida “desregrada”, mas de forma sóbria, justa e piedosa (ou seja, viver de modo devoto).

A essa altura o leitor já deve ter perguntado: onde está a resposta a sua pergunta? Está exatamente na certeza de que se precisa viver diferente do mundo enquanto aguardamos a volta de Cristo. Acho importante  citar as palavras que Deus nos deu por meio de Pedro: “ Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado; para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus.” (1Pd.4.1,2).  Gosto da maneira como a tradução do Novo Testamento Judaico põe as palavras dos versículos 3 e 4, e os transcrevo aqui: “Porque vocês já gastaram tempo suficiente vivendo da forma que os pagãos desejavam que vivessem – em libertinagem, lascívia, embriaguez, orgias, festas desenfreadas e na adoração de ídolos. Eles acham estranho que vocês não se lacem com eles no mesmo fluxo de dissolução e, por isso, os insultam.”(1 Pd. 4.3,4 - Versão Novo Testamento Judaico).

Quando lemos estas palavras reforça-se a certeza de que a graça tem algo a ensinar e que, portanto, não me será válida a desculpa de que tudo para mim é mais difícil. Pois na verdade, enquanto Jesus não volta, todos enfrentam as mesmas dificuldades; mas a mesma graça que se manifestou salvadora, também nos ensina a renunciar. E quanto ao século em que estamos vivendo, devemos lembrar mais uma vez a carta de Pedro: ...E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração.( 1Pd.4.7).

 Posso então concluir que a resposta  ao pensamento que me veio à mente aquela manhã resume-se em três pontos, e podem ser postos assim:

·   Apesar de vivermos dias que divulgam com maior rapidez e dinamismo as obras pecaminosas, podemos contar com a certeza de que Deus está conosco; como sempre esteve.

·   Os dias atuais, em tese, não diferem dos dias em que os apóstolos aqui viveram. “ o mundo jaz no maligno” (1 Jo. 5.19), e isso já há muito tempo! Desde aqueles dias já assume-se que “é chegado o fim dos tempos”(1 Pd  1.20).

·   Tal como naqueles dias, hoje somos ensinados pela graça de Deus a viver uma vida em“desconexão” com o sistema mundano, mesmo nesse presente século (Tt.2.14). Portanto não há  razão para nos desculpar. As dificuldades de hoje não são maiores nem menores, são apenas diferentes dificuldades.

Portanto,  concluo o presente texto agradecendo a Deus por sua Palavra, que é tão completa quanto perfeita. Ela é nossa única regra de fé e prática. Ah! A propósito, permita-me enfatizar: “de fé e prática”!!De nada nos adiantará afirmarmos que temos fé, ou que somos cristãos evangélicos, se não houver em nós um viver exemplar; um diferencial.

As ideias ecumênicas, tão disseminadas na atualidade, promovem a equivocada afirmação de “que todos os caminhos levam a Deus”, e de que todas as “religiões” são iguais. Essa afirmação motiva a “união de religiões e religiosos” sob a alegação de que os que não se juntam a eles são “intolerantes”; e isso, eles parecem não tolerar! De fato, a manifestação da graça, tanto salva quanto ensina a todos os salvos a renunciar a impiedade e as concupiscências  mundanas. Entre estas impiedades e concupiscências  estão as que são praticadas por muitas das religiões que se unem em torno do ecumenismo!

Esperamos sim que haja, muito em breve, uma verdadeira união. Não em torno de um poderio religioso de Roma ou de outro qualquer, mas em torno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que com sua graça nos tem alcançado, e em seu Espírito Santo nos tem ensinado a viver somente para Ele.

É na certeza de que em breve estaremos para sempre com Cristo, e na esperança de que o compartilhar destas palavras leve edificação ao amado leitor, saúdo a todos em Cristo Jesus.

Fraternalmente,

Ir. Genildo Alves de Lima.

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[1] David H. Stern Comentário Judaico do Novo Testamento, P 407.