SALMOS 84: COMO É CONFORTÁVEL ESTAR NA PRESENÇA DE DEUS!

29/08/2016 19:59

“QUÃO amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!... Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.” (Salmos 84.1,3)

 

O salmo 84 é uma das expressões mais notáveis sobre o anelo da alma pela presença de Deus; pelo lugar onde Deus se faz presente. Tabernáculo, átrios do Senhor, teus altares, tua casa e Sião, são palavras registradas nos versos de 1 a 7 e que apontam para a vida religiosa do judaísmo e seu centro de adoração – Jerusalém e o Tabernáculo onde estava a Arca da Aliança (mais tarde, e com a aprovação de Deus, o Templo seria construído).

            Mas não são apenas as palavras mencionadas acima e os adjetivos e ações verbais caracterizando o estado da alma do salmista que levam beleza e intensidade a esse salmo: o verso 3 faz-nos pensar um pouco mais sobre nossa consciência quanto a nossa estada no Templo; sobre nossa presença na Casa do Senhor. E isso é feito quando o salmista introduz a presença do pardal achando casa e a andorinha fazendo ninhos!

Mesmo não tendo a mesma significação que tinha o Templo de Jerusalém para os judeus, é certo que o lugar separado para a adoração a Deus (nossos templos atuais) pode contar com sua presença (Mt.18.20; Jo 14.16...). Naturalmente o crente anela pela presença do seu Senhor; e qual filho, em sã consciência e em circunstâncias normais, não anelaria pela presença de seu Pai?

Mas o que pardais e andorinhas têm a ver com tudo isso? E por que o salmista os menciona? Deve haver uma razão para que o salmista os mencione. Para isso, devemos lembrar que a Bíblia é de natureza dupla: divina e humana. Ela é inspirada divinamente e escrita por mãos humanas. Mas não podemos esquecer que Deus não usa o escritor humano como se usa uma máquina ou um robô, ele sabe como os usar sem que suas habilidades e experiências sejam desperdiçadas. Assim, o escritor segue seu itinerário na escrita sem perder sua “pessoalidade”, ao mesmo tempo em que serve ao propósito divino. Os salmos são cânticos do hinário de Israel, repletos de poesias. Seus autores, portanto, eram poetas a serviço do Rei dos reis! É aí que o pardal e a andorinha acham lugar neste salmo – na sensibilidade deste escritor –  ao tempo em que transmitirá uma mensagem para a posteridade. É Deus utilizando-se do homem sem que este perca seu valor de poeta.

E qual será a mensagem? Bom, para isso é importante que se note algumas particularidades dessas aves e, como já dito, note-se também que a sensibilidade poética do escritor está presente processando uma linguagem figurada; metafórica. O pardal é uma ave caracterizada por sua simplicidade. No geral, o pardal é encontrado em grande quantidade, e isso o torna menos apreciável. Ao apresentar o pardal achando casa próximo aos altares do Senhor, o salmista evoca a característica inclusiva da presença de Deus, uma vez que o pardal é a ave mais simples, a mais numerosa e, por isso, não é tão apreciada e, até mesmo comercialmente, nos tempos bíblicos, era ela a mais barata. No entanto, houve para ela um lugar ali pertinho dos altares do Senhor.

Alguns intérpretes entendem que em Mt 10. 29-31, é o pardal que é utilizado no exemplo dado por Jesus sobre o cuidado de Deus com os seus. Ao usar a palavra “strouthia” (termo grego para aves comuns, passarinhos) a tradução para pardal torna-se a melhor candidata, já que é o pardal que se acha em maior quantidade na região. Some-se a isso o fato do preço mencionado por Jesus: dois dinheiros, ou seja: Jesus estaria dizendo que “se até o pardal, que não era valorizado pelos que comercializavam pássaros naquela época, desfrutava dos cuidados do Pai celestial, quanto mais aquele que crer em seu filho”.

É esse amor e cuidado que não exclui a ninguém que o salmista procura trazer à tona ao citar o pardal encontrando abrigo junto aos altares do Senhor? Estou inclinado a responder com um Sim! O lugar mais sagrado do templo judeu – o santo dos santos – teve seu véu (que causava separação) rasgado em dois, de alto a baixo, e ficou aberto a todos depois que Cristo entregou por nós sua vida. Todos podem adorar e servir ao Pai celestial; até mesmo aqueles que não se sentem valorizados pela sociedade. A presença do Senhor é inclusiva.

Nos altares do Senhor até mesmo a vida mais andarilha pode achar um lugar aconchegante. Parece ser essa a intensão do poeta do Senhor quando usa a andorinha, uma ave migratória, que pode percorrer centenas de quilômetros e que está sempre em bandos, de um lado para outro. A sensibilidade do salmista parece evocar essa significação; essa qualidade de se estar sempre “mudando-se de lugar”. Ou seja, era como dizer: na casa do Senhor, até aqueles que não demoram em lugar algum acham o aconchego para si e para os seus. Sim, a andorinha não apenas se demorou ali, mas ela encontrou lugar também para seus filhotes! O salmista não perde de vista a força que tem “um ninho”. É aí que está a figura do aconchego e segurança. O amor e cuidado maternos. A presença do Senhor, os seus altares, proporcionam segurança. Lá podemos nos abrigar; não apenas nós, mas toda a nossa família!

Naturalmente o salmista sabia e até já tinha visto ninhos de pardais e andorinhas em muitos outros lugares, mas o que lhe tocara o sentimento naquele momento fora a conveniência: a presença do senhor é realmente inclusiva, acolhedora e aconchegante!

Quantas vezes nos achamos tão distantes dessa realidade. Não deveríamos contar os minutos que passam do horário do fim do culto como se fossem pesados a nós, e sim como bônus da maravilhosa oportunidade de estar na presença de Deus (claro que isso se aplica aos cultos e templos que preservam a legitimidade da adoração a Deus). Estar na presença de Deus é garantido somente a reuniões que sejam de fato “em nome de Jesus (Mt  18.20), isso exige mais que meras formalidades. É preciso legítima entrega ao senhor e fidelidade a sua palavra.

Desde o jardim do Éden, onde Deus falava na viração do dia com o homem (Gn 3.8), sempre esteve nos planos de Deus ter o homem em sua presença. O homem foi expulso do jardim, mas edificou altares onde podia oferecer sacrifícios. Depois Deus mesmo ordenou que construíssem o Tabernáculo com todos os seus utensílios e rituais; na sequência viria o templo e por fim, aquele que é o “templo em pessoa” –Jesus Cristo, a maior manifestação da presença e glória de Deus (ver. Jo 1-14)! Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Colossenses 2:9). É somente por meio dele que estaremos para sempre na presença de Deus, na Jerusalém celestial; lá não necessitaremos de templo: E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro (Ap 21.22). Jesus demonstrou seu desejo e prazer de ter-nos ao seu lado para sempre (Jo 14.3).

Enquanto esse dia não chega temos o privilégio de desfrutar de sua presença nos cultos; no templo. E quão bom é dizer como o salmista: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos. A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo”(Sal. 84.1,2).

A presença do senhor é um lugar que a todos inclui; é aconchegante estar lá. Para aqueles que não são apreciados e valorizados por sua sociedade, ou para aqueles que vivem de um lado para o outro na correria deste mundo agitado, há um lugar em sua presença. Para estes e para seus filhos. Pois até o pardal e a andorinha com seus valores e hábitos podem achar abrigo e aconchego para si e para sua prole... Quão amáveis, senhor, são os teus tabernáculos!

Na esperança de que este pequeno texto nos ajude a sermos mais gratos pelo grandioso privilégio de já estarmos sentados em regiões celestiais (de estarmos já em sua presença e termos a garantia de que estaremos eternamente), e a valorizarmos tal privilégio, desde já saúdo a todos com a doce e gloriosa Paz do Senhor!

Fraternalmente,

Ir. Genildo Alves de Lima

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